A visita da jornalista cubana Yoani Sánchez ao Brasil deveria ter sido motivo de reflexão para todos aqueles que defendem a liberdade de expressão e os direitos humanos. Trata-se de uma mulher corajosa que tem lutado apenas com palavras contra a truculência e ditadura dos irmãos Castro, hábeis em privar o povo cubano de se manifestar livremente, que encarcera os dissidentes, que não permite a existência de oposição e de outros partidos políticos e que até bem pouco tempo não permitia que as pessoas deixassem o país sem autorização governamental, ou seja, todas estavam presas, prisioneiras em seu próprio país. Surpreendentemente, Yoani foi muito mal recebida, vaiada, ofendida e agredida com palavras de ordem e insultos pronunciadas por elementos pertencentes à União da Juventude Socialista, ao PCdoB e ao PT que defendem a ditadura cubana como se este fosse um regime perfeito, onde há liberdade politica, econômica e de opinião. Justiça seja feita aos bons indicadores de desenvolvimento humano em Cuba nas áreas da saúde e educação. Porém isso não justifica o cerceamento da liberdade individual e a restrição à liberdade de imprensa. É incrível que no Brasil, mais de vinte anos após a queda do bloco soviético, soterrado por sua própria ineficiência e incapacidade em desenvolver um sistema político e econômico livre, independente e baseado nos direitos humanos, ainda existam pessoas que acreditem piamente que nos países comunistas tudo funcione corretamente e melhor. Com certeza esse pessoal ainda não foi informado que Cuba é uma ditadura totalitária, baseada no poder pessoal do dirigente máximo, que regula a vida das pessoas da forma que lhe for conveniente. Na grande ilha caribenha vale somente o que os irmãos Castro decidem.
Os militantes – pequenos ditadores
Pela forma como os militantes agiram com Yoani, não permitindo que ela falasse durante o suposto debate em Feira de Santana, agindo de forma repressiva, totalitária, como se estivessem fazendo um treinamento para obterem o título de pequenos ditadores, ficou bem claro que esse pessoal não entende um dos princípios básicos da democracia: liberdade de expressão. Talvez deva adicionar um detalhe a mais: Falta de compostura e educação. Perderam a oportunidade de fazer perguntas inteligentes. Quem ela é? Quem lhe dá suporte financeiro? Como consegue trabalhar em Cuba? Será que esse pessoal é pago apenas para fazer esse tipo de manifestação truculenta? Ou me desculpem, será que não passam de pessoas ignorantes que estão sendo manipuladas? Deveria haver um meio de aprenderem o que realmente acontece nesses países. Porém, algumas pessoas, lamentavelmente, somente aprendem pelo processo mais difícil e doloroso, ou seja, com base nos próprios erros. Parece que jamais aproveitam a experiência e o ensinamento de outras pessoas. Claro que errar é humano! Todos nós cometemos erros! Mas temos que aprender com eles e não fazer o que muitos militantes esquerdistas tem feito. Repetir a bobagem de defender um regime totalitário que limita tremendamente a liberdade individual. Seria interessante se pudéssemos enviar esse pessoal como voluntários a Cuba, somente com passagem de ida. Passar uma boa temporada por lá e conhecer o país trabalhando em uma empresa estatal com tecnologia e ganhos limitados. Não é passeando não! É vivendo a realidade local com todas suas dificuldades. Morando em uma habitação pra lá de modesta, praticamente sem acesso a bens de consumo de qualidade, com acesso restrito a internet, assistindo somente aos programas de TV permitidos pelo governo e ainda suportando periódicos cortes de energia. Eu gostaria de verificar se após algum tempo sentindo falta daquilo que tinham acesso no Brasil se teriam coragem de tentar colocar alguns cartazes de protesto em frente à sede do governo local. Aqui é fácil reclamar! Existe liberdade de expressão! Mas quero ver se por acaso, ao incomodar o regime, caírem em desgraça e entrarem em “cana” e só saírem de lá depois de repetidos apelos as democracias ocidentais para que interfiram e sejam libertados. Aquelas democracias que eles tanto detestam e criticam. Democracias imperfeitas, claro, cheia de defeitos, mas onde se pode reivindicar e tentar mudar o “status quo”. Só não tente pedir ajuda pra ser solto ao governo petista brasileiro. Este governo nunca condenou as repetidas violações dos direitos humanos em Cuba. Se depender dele, lamento dizer, ficarão todos em “cana”. Imagine o governo petista brasileiro ousar questionar uma só ação do aparato de segurança cubano. Esse pessoal, os supostos voluntários, só aprendem assim, por meio de sua própria experiência, pelo sofrimento, mas claro, isso tem que ser o deles. Deixe as demais pessoas de fora.
Afronta a Soberania Nacional
O Senador Alvaro Dias (PSDB-PR), apresentou requerimento em 18 do corrente mês convocando o Ministro das Relações Exteriores e o Ministro Chefe da Secretaria Geral da Presidência a comparecerem ao Senado Federal, para que esclareçam denúncias da Revista Veja de que o embaixador cubano no Brasil teria mobilizado militantes contra a dissidente Yoani Sánchez. A revista revelou que um funcionário da Secretaria Geral da Presidência esteve em reunião na embaixada de Cuba em Brasília antes da visita de Yoani, e ainda, que este funcionário recebeu das mãos de diplomatas cubanos um CD com dados difamatórios para atingir a jornalista cubana. Segundo a revista, a reunião foi coordenada pelo embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodriguez e pelo conselheiro político da embaixada, Rafael Hidalgo, com a presença de representantes de organizações políticas do PT, PCdoB e CUT. A reunião teria como objetivo disseminar fatos supostamente negativos relacionados à jornalista. Se confirmado, tudo isso explica as manifestações bem organizadas de militantes pró-Cuba na Bahia, e que claro, se sentiram ainda mais motivados em suas ações, baseados em informações de origem duvidosa, a realizar os protestos agressivos em Feira de Santana. Este nebuloso evento da reunião na embaixada suscita algumas outras questões: Por que um funcionário da Secretaria Geral da Presidência foi à embaixada cubana para retirar um CD com dados supostamente difamatórios? Por que partidos políticos supostamente democráticos estiveram na embaixada de um país estrangeiro para receber orientações? Algum funcionário do governo teve participação na organização das manifestações? Por que o governo não apresenta o CD ao Congresso Nacional acompanhado das respectivas explicações? São questões sérias que precisam ser convenientemente esclarecidas. É inaceitável qualquer tipo de perseguição pessoal a um cidadão nacional ou estrangeiro que visite o país, principalmente com a suposta colaboração de uma embaixada estrangeira, entidades políticas e sindicais nacionais, e ainda pior, com possível participação de representante do governo brasileiro, que deveria zelar pela respeitabilidade do país e não se utilizar do cargo para fins partidários e escusos. Este servidor deve, portanto, responder por seus atos na forma da lei em se confirmando seu envolvimento. Da mesma forma é inaceitável a participação de diplomatas cubanos em um ato ilegal deste tipo em território brasileiro, que viola a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, em uma clara intervenção nos assuntos internos do país. Havendo confirmação de seu envolvimento, estes deveriam ser declarados “personas non grata” e convidados a se retirar do país. Não podemos tolerar nenhum tipo de afronta à soberania nacional. O governo tem que fazer algo a respeito e agir como governo brasileiro que defende o interesse nacional e não o contrário, agir como governo do PT que de vez em quando defende o interesse nacional. Vou dar uma sugestão: Uma boa alternativa é dar uma “ligadinha” lá em Cuba e pedir a um dos irmãos Castro que troque o corpo diplomático cubano aqui do Brasil na calada da noite, quietinho sem ninguém perceber. No final, com a “roupa suja lavada” a oposição talvez fique sem munição e conformada, esqueça esse incidente.
Embargo Econômico
Durante as manifestações havia cartazes de protesto dos manifestantes contra o bloqueio americano a Cuba. A própria Yoani tem se declarado contrária a isso. Todos tem razão, afinal o bloqueio atinge todo país, mas apenas a população, refém do governo, que sofre e fica ainda mais impossibilitada de se desenvolver e de elevar seu padrão de vida. Aos dirigentes cubanos, a elite que governa o país, não falta nada. Só quem se “ferra” é o povo carente de recursos. Quanto maior for este bloqueio, maior será a resistência do governo cubano em permitir uma abertura política e econômica. Os políticos americanos precisam entender uma das leis básicas da física. O Princípio da Ação e Reação ou Terceira Lei de Newton: Para uma ação sempre há uma reação de mesma força, direção, intensidade e sentido oposto. Os irmãos Castro não vão se render a esse tipo de pressão. Eles apenas farão o que sempre fizeram. Desviarão essa força externa de volta. Eles continuarão se dirigindo ao povo cubano explicando através do clássico discurso que o inimigo imperialista tenta nos destruir com o bloqueio, colocando a culpa de todos os males que afeta o país aos inimigos externos da revolução. E assim, continuarão conclamando o povo a resistir a mais essa grave agressão capitalista. A solução é jogar a culpa nos outros. Esse é o discurso. É só o que sabem fazer. Dar a volta por cima e encontrar saídas criativas que mobilizem o país buscando alternativas politicas e econômicas, nem pensar! Dá muito trabalho! Para isso é preciso competência. Portanto, levantar o embargo econômico eliminaria todos esses argumentos, disponibilizaria recursos ao país, criaria uma demanda intensa pela modernização e despertaria uma força interna que questionaria o regime obrigando este a caminhar rumo à democratização de suas instituições, ou se resistisse, a correr o risco de implodir, pela falta total de apoio popular, de transparência e legitimidade que lhe permitisse continuar governando. Mas isso é assunto para outro momento, por enquanto, ainda levará algum tempo para que Cuba adote a plena democracia e seu povo tenha direito de escolher seus dirigentes mediante eleições livres com a participação de diferentes partidos e correntes de opiniões.
Raimundo Oliveira
Cientista Político e Social.