A Venezuela e o populismo chavista

Com o falecimento de Hugo Chávez fica órfão aquilo que ele denominava revolução bolivariana e que tinha como meta socializar totalmente os meios de produção da Venezuela, garantir o poder para seus dirigentes e eliminar a oposição ao regime. Na realidade é mais uma das experiências autoritárias e ditatoriais da América Latina. Fica a dúvida se o chavismo sobreviverá à morte de seu criador ou se conseguirá se conservar no poder e assim consiga ampliar as conquistas sociais do regime, de duração e eficácia incertas, inteiramente conduzidas com dinheiro do petróleo e, portanto, alicerçadas em bases frágeis e não sustentáveis. Vários governantes latino-americanos, do Equador, Bolívia, Argentina, Nicarágua e do Brasil, entre outros, lamentaram sua morte e alguns deles com declarações expressando a perda irreparável que isso representa para Venezuela. Lógico que a morte de qualquer pessoa é motivo de tristeza, mas se expressar de forma a considerar sua ausência algo tão grave que ameace a continuidade do trabalho até então efetuado, apenas demonstra a fragilidade do regime, típico de ditaturas personalistas com alta concentração de poder em uma única pessoa. Esse tipo de manifestação também revela o viés autoritário e populista de vários governantes locais que anseiam por um controle total do poder. Não podemos negar o esforço que Chávez colocou na melhoria das condições de vida da população. De acordo com a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina da ONU), em 1999, ano em que ele assumiu o controle do país, 49,4% da população venezuelana se encontrava abaixo da linha da pobreza, enquanto que em 2012 o número foi reduzido para 29,5%. Embalado por este sucesso social, Chávez perseguiu mudanças na constituição do país. Em 2009, obteve por meio de um referendum popular 54,36% dos votos que lhe garantiram o direito a buscar a reeleição ilimitada e dessa forma ter a garantia política que precisava para aprofundar a implantação do sistema socialista no país.

Economia

Em termos econômicos, tudo que ele fez desde que assumiu o poder foi aprofundar a dependência externa do país. Criou tantos problemas para a iniciativa privada que o volume de investimentos externos praticamente desapareceu. Segundo dados do MRE (Ministério das Relações Exteriores) do Brasil em 2011, o país depende excessivamente do petróleo e de seus produtos derivados que representam 95% da pauta de exportações. A contribuição dos demais setores da incipiente indústria venezuelana nas vendas externas é praticamente irrelevante. Contraditoriamente, 48% de tudo que é exportado se destina aos Estados Unidos e 29% do que é importado também procede dos EUA. Portanto, o nível de dependência econômica do governo chavista com o país que eles consideram seu maior inimigo é simplesmente muito elevado. Os EUA, é o país que Chávez, por questões ideológicas, fazia questão de demonstrar seu desprezo e oposição sistemática, embora os EUA seja o maior cliente externo da Venezuela e de quem o regime mais depende para manter suas contas em dia. Para combater a elevada taxa de inflação anual, que segundo o MRE se situava em 26,1% em 2011, chegou a ponto de comprar da China cerca de 3 milhões de diversos tipos de eletrodomésticos para venda a população pobre com preços 50% mais baratos, e claro inteiramente subsidiados pelo estado, e assim garantir o que realmente lhe interessava: apoio político. Apesar de suas iniciativas sociais a taxa de desemprego atual gira em torno de 8,2% da força de trabalho e o país vive um alto clima de insegurança com altíssimas taxas de criminalidade.

Política externa e interna

A aproximação de Chávez com países governados por ditaduras envolvidas em sérias violações dos direitos humanos como Cuba, e outros governos ainda piores, conhecidos mundialmente pelo suporte a grupos terroristas como o antigo governo da Líbia, Irã e Síria, sempre causou sérias dúvidas sobre suas reais intenções políticas e qual a direção que realmente pretendia conduzir o país. Sua influência na politica venezuelana é tão poderosa, que mesmo sem assumir oficialmente o cargo por motivo de doença, designou seu vice-presidente Nicolás Maduro para assumir o poder durante sua ausência o que foi suficiente para ser obedecido sem contestação pelas instituições. Segundo a Constituição, deveria assumir o posto de forma temporária o chefe da Assembleia Nacional, mas quem assumiu foi o vice Maduro e que deverá governar o país até que novas eleições sejam realizadas em um prazo de 30 dias. Existem dúvidas sobre a estabilidade política do país sem a presença de Chávez e sobre a capacidade dos demais líderes chavistas serem capazes de se manter sem sua presença. Ele não preparou ninguém para sua ausência. Muito comum em se tratando de ditadores. Eles não ensinam o caminho com medo de um dia serem depostos. Mas ele deixou o país com todas suas instituições infiltradas de chavistas e calou a imprensa livre, facilitando assim a vida de Maduro para se firmar no governo. Em agosto de 2009, Chávez tirou do ar 32 estações de rádio e duas emissoras de televisão e distribuiu as estações confiscadas para organizações que apoiavam seu governo; Em 2004, ele nomeou 12 juízes para a suprema corte do país, ampliando o quadro de 20 para 32 juízes e garantiu com estas nomeações que não perderia nenhuma disputa judicial; Ele também criou milícias armadas no total estimado de 150.000 pessoas e que não estão subordinadas as forças armadas, para assim ter uma força paramilitar que lhe apoiasse incondicionalmente, a exemplo do que foi feito pelos regimes fascista de Mussolini e nazista de Hitler. Com tanta concentração de poder e de intimidação os adversários políticos não tem espaço para participar democraticamente do processo eleitoral. Além disso, o governo tem total liberdade de se pronunciar na televisão pelo tempo que for necessário. Portanto, é muito difícil que a oposição consiga se manifestar e participar de eleições livres e justas com tanta interferência do estado. Mesmo que a oposição surpreenda e chegue ao poder, suas instituições estão tão contaminadas por chavistas que o risco de instabilidade política e de golpe de estado é algo perfeitamente factível.

Origens do Chavismo

As raízes do Chavismo estão no seio da antiga classe dirigente que concentrava a riqueza em uma pequena parcela privilegiada da população e excluía todos os demais. Estes governos não souberam utilizar o petróleo como um meio de retirar o país do atraso. Poderiam ter utilizado estes recursos para criar programas sociais que suportassem os mais pobres durante o tempo necessário para que pudessem se preparar para caminhar sozinhos; poderiam ter realizado maciços investimentos em hospitais, escolas e universidades e assim capacitado a população para impulsionar o desenvolvimento econômico e social; e ainda poderiam ter realizado maciços investimentos em infraestrutura criando e reformando portos, rodovias e ferrovias que permitissem a instalação de empresas a custos competitivos. Com estas iniciativas teriam empregado a maior da parte da mão de obra nacional e proporcionado à criação de uma classe média forte e lançado às bases de um país sem pobreza. A responsabilidade pelo nascimento do chavismo pertence exclusivamente à incompetência de seus governos anteriores que não souberam utilizar a riqueza do petróleo para criar um país forte, democrático e autossuficiente. Uma Venezuela próspera teria causado um forte impacto no desenvolvimento regional e se tornaria um modelo para os demais países da região. É dessa incompetência e corrupção que surgem regimes totalitários com seus líderes carismáticos, populistas, corruptos e demagogos que enriquecem seus partidários mais graduados e se eternizam no poder. É nessa direção que a Venezuela vem caminhando. Estão previstas novas eleições. O poder de coerção do estado chavista é enorme, e o dinheiro do petróleo lhes garante os recursos para financiar o apoio que o estado precisa, portanto é pouco provável que ocorram surpresas.

Vamos ver o que vai acontecer.

Raimundo Oliveira

Cientista Politico e Social.

Sobre Raimundo Oliveira

I'm a Social Scientist interested to study and provide analysis of global relevant issues. For professional contact send an email to rrsoliveira@hotmail.com
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